sexta-feira, julho 08, 2005

O ADEUS

Tela de Léo Sodré


O último gesto foi de carinho
a última palavra, de tristeza
o último aceno, de saudade.
A cena foi de prazer,
o sentimento de amor
a realidade, de adeus.
Chl.
Dez/1985





quinta-feira, julho 07, 2005

PONTA NEGRA

As mãos tocavam o fecho
da calça "Lee"
os dedos abriam o "zíper",
as mãos já nos quadris
desciam a calça levemente.
O corpo bamboleando
ajudava a calça a descer
roçando macio,
aos poucos
apareciam as coxas
carnudas, rosadas
contrastando
com o preto cintilante
no regaço.
A calça já fora do corpo
é atirada ao chão
a moça senta-se suavemente,
abre as pernas
deita-se enfim;
a água do mar
no vaivém das ondas
molha seus pés
e o sol de Ponta Negra
bronzeia seu corpo.

Chl

Set/1979

segunda-feira, julho 04, 2005

O SONHO

Tela de Dunga.

Por volta das onze horas da manhã, recebi um telefonema, era Leila.
-Alô, oi Leilinha tudo bem?
-Estou apavorada, respondeu ela, aos prantos.
Ontem fui até a Fenacam, tomei cerveja com camarão, de todas as formas e receitas até a meia-noite;voltei pra casa meio bêbada.
Tomei um banho morno pra relaxar e dormir, mas estava cheia de vontade e de desejos. Perfumei todo meu corpo e fui pra cama completamente nua, pra suportar o calor infernal enquanto o ar condicionado restaurava uma temperatura amena e suportável em meu quarto.
Vi o telefone ao lado no criado mudo, resolvi ligar.
-Pra quem vou ligar uma hora dessas. Estou cheia de tesão. Há! Barbinha.
Liguei pro Barba que atendeu com uma voz sonolenta, desejosa e sensual : Oi querida, estava pensando em você, agorinha mesmo.
Pois é, tomei umas cervejas, tô muito afim, sozinha querendo a companhia de alguém que me faça relaxar.
-Só um minuto, falou Barbinha, deixe eu colocar o audi-fone, pra ficar com as duas mãos livres e podermos conversar melhor.
Aquela voz grave,sussurrante, lânguida, estava me umedecendo , me deixando arrepiada, me excitando.
-Como você está vestida, ele perguntou; antes que eu pudesse responder ele falou com uma voz de safado: - Estou com as mãos livres apenas me acariciando, completamente nu entre os lençóis.
-Ai, Barba, você é demais, também estou assim, mas tenho apenas uma mão livre , pois não tenho um audi-fone.
-Onde está sua mão agora?
-Lá, respondi.
Fizemos amor lindo e gostoso. Senti tanto prazer que adormeci, sem sequer desligar o telefone.
Acordei agora, completamente apavorada, com um sonho terrível que tive.
Sonhei que era uma menina indiana, e fui submetida a uma cisão clitoriana. Que loucura! Eu não sentia a dor física da cirurgia sem anestesia; eu sentia uma dor profunda no peito só de imaginar que pro resto da vida eu não seria verdadeiramente mulher, eu não sentiria prazer. A angústia que me invadiu foi tão forte que acordei soluçando, sentindo um imenso vazio dentro de mim.
Desculpa te ligar assim, Chico,mas precisava do amparo de uma palavra amiga e lembrei de você.
Depois de uma noite tão linda, tão prazerosa. O gozo profundo consumiu toda a minha força física e o sonho ruim tomou conta de mim, como se nunca mais eu fosse sentir aquilo de novo.
-Não esquenta Leilinha. Toma um banho frio, um copo de leite gelado, tenta se concentrar , liga pro Barba novamente e começa tudo de novo. Garanto que ele vai estar prontinho, te esperando.

                Frei Carmelo
                  Jul/2005

domingo, julho 03, 2005

REFLEXÃO

Quantas vezes
eu me lastimo
eu me combato
eu me debato
eu
contra essa formação
esse palavreado
contra o meu próprio
eu
Aí vem o preconceito
a esperança nata
a natureza bela
e o fim de noite
é o amanhecer
a vida continua
assim
como haveria de ser.
Chl

Jan/1979