sexta-feira, setembro 23, 2016

ENGOLE BRASA

Manoel Possidônio , conhecido como Manoel Engole Brasa, era um comerciante de jóias ambulante e garimpeiro . Andava nas ruas de Santa Cruz com uma pasta, com vários "panos de jóias". Trata-se de uma peça de veludo, geralmente azul, encrostada de jóias de ouro e brilhantes. Uma pasta de couro, larga, grande e sempre andava bastante pesada. Vivia bem, ganhava bastante dinheiro, o que lhe proporcionava uma vida bem estável com a sua família .
Manoel, entretanto, gostava de parar em um bar , quando terminava sua tarefa comercial, para tomar uma bebida. Os amigos e conhecidos, tomavam cervejas, conhaques, mas Engole Brasa, apreciava a aguardente. Tomava bem e com muita frequência, voltando, as vezes pra casa, meio embriagado.
Com o passar do tempo, Manoel aumentou sua frequência nos bares e diminuiu suas vendas de ouro. Sem se dar conta, aos poucos foi se tornando alcoólatra e a sua pasta a ficar vazia e muito maneira, até que chegou um dia e ele não tinha mais mercadoria.
Chegava pela manhã, logo cedo, no bar de Chagas Farias, com uma pasta recheada e pesada, que um dia os amigos resolveram abrir e em vez de ouro, tinha uma rede, para encher a pasta e um paralelepípedo, para ficar pesada.
Chegava tremendo, da bebida do dia anterior, estirava a mão trêmula sobre o balcão e pedia :
- Me dê uma brasa aí, que a tremedeira hoje tá com a "mulesta".
Depois de três "brasas" ele estendia as duas mãos sobre o balcão, olhava para as pessoas e dizia:
- Tão vendo, já parou de tremer e agora eu vou engolir outra brasa.
Foi daí que surgiu o apelido : Manoel Engole Brasa.
Antônio, era irmão de Manoel, garimpeiro também e resolveu um dia , abrir uma mercearia, com um bar, na Rua Caminha Fiúza.
Era baixo, sorridente, falava com a língua meio enrolada, mas era uma pessoa magnífica . Honesto, trabalhador e gente muito boa. Ele e o soldado Andorinha, foram as duas únicas pessoas que eu permiti garimpar na propriedade da nossa família , sem nunca conferir o resultado de suas pesquisas, porque confiava integralmente nos dois.
A rapaziada da cidade que gostava de tomar um banho no "Açude Novo", na volta entrava no bar de Antônio Engole Brasa, que mesmo sem beber, herdou o nome do irmão, e que todos passaram a chamar o "Bar do Brasa ".
Eu, Lourencinho, meu irmão, e mais, Serafim, Iaponam ,Livio, Crézio, Bubu, Joca Lindo, Edson Cara Curta, Zé Domingos, Antônio Luiz de Zé Dobico, Rosemilton, Dinarte de Pedro Severino, Félix de Zé João, Djair de Ivahy, Gilvan de Talau, Lila, Hiltinho , Wilson de Cabral, Mananciel, Hudson Fonsêca, Fabinho de Lula Farias, Geraldo Golinha, Fernando Bocão, Helio Mendes, Zezinho de Hosana, Roberto Umbelino e Munheca e vários outros companheiros de juventude.
A turma chegava sentava na mesa e começava a azucrinar o pobre do Brasa:
- Traga um litro de Pitú, duas coca-colas , três limões e uma corda de piaba pra tira gosto.
As cordas de piaba, ficavam no quintal , penduradas nos caibros e cobertas de moscas. O Brasa vinha com uma peixeira, batia na corda, as moscas voavam e ele cortava uma fieira de piabas, levava pra cozinha e jogava na frigideira, já com óleo fervente e fritava. Era bom demais, uma iguaria que eu acho que só ficava boa daquele jeito, por conta das moscas. Tinha também, curimatã, traíra, cará e galinha torrada.
Serafim andou por São Paulo um tempo e chegou cheio de novidades em Santa Cruz. Só não chegou chiando, porque os que eu conheci que foram pra São Paulo e voltaram chiando, eram Munheca e Tino de João Chicó, meu primo.
Fomos para o bar de Brasa e quando pedimos as bebidas, Serafim gritou:
- Brasa, traga um Pizza Calabresa e depois um Espaguete ao Sugo - comidas bastante comuns em São Paulo. Brasa gritou de lá :
- Hoje num tem esses troços aqui não, mas Sábado eu compro na feira. Hoje só tem a piabinha que você gostava muito antes de ir pro Sul.
Depois Antônio melhorou de vida e comprou o prédio onde era a fábrica do Molho Inharé e transformou em um hotel : Hotel do Brasa. Era o maior hotel da cidade.
Um belo dia , chega Iaponam com uma turma de Natal em três carros, com umas moças , para beber e farrear na cidade. Ele que morava em Brasília, quando chegou, soube que o Brasa estava com um hotel novo e dirigiu-se pra lá , pra tirar o juízo do coitado do Antônio. Chegou lá, foi entrando, viu o Brasa na recepção e foi gritando:
- Brasinha meu amigo, vim prestigiar seu hotel, estou com uns amigas e umas amigas e quero três apartamentos.
Brasa olhou pra Iaponam , fez uma arzinho de riso e meio gaguejando disse :
- Gordinho, o meu hotel é organizado e pra você se hospedar com seus amigos, têm duas condições.- Iaponam disse, não tem problema , eu resolvo, quais são as condições?
- Bem Gordinho , primeiro você me paga um vale que tem aqui, desde o tempo da Caminha Fiúza e depois me traga a certidão de casamento sua com essa moça, porque aqui é um hotel familiar. Se resolver, aqui estão as chaves.
Iaponam disse :
Vôtss, sendo assim eu vou me hospedar lá em Maria Anjo.
Chl
Set/2016

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