sábado, agosto 20, 2005

O FETO

O que é que tens
nessa barriga
que se agita
que tu afagas.
Fico curtindo
tua barriga
que cresce
aos poucos
como uma flor
que desabrocha.
Em tuas entranhas
cresce um filho
do amor, é claro
e nove meses
de quarentena
como se lá fora,
a liberdade existisse.
Chl.
Dez/1978

quinta-feira, agosto 18, 2005

A TENDA DO CIGANO

Foto : Hugo Macedo

Descia pela ladeira do sol , era sexta-feira , em busca de aventuras nos bares da orla. Pegou a direita no clube Bandern, seguiu por Areia Preta passando pelo “bate papo” foi até o “é nosso” e encostou no “iara bar”.
Pediu uma cerveja, estupidamente gelada, pra lavar. Nas mesas algumas pessoas bebiam e fumavam muito, mas, não viu ninguém conhecido, pagou a cerveja e saiu de volta no caminho da Café Filho , chegando no girador da rua , sentiu vontade de ir ao “puteiro”, logo à esquerda vizinho ao bar “castanholas”, mas preferiu encostar no Chaplim que era o bar mais badalado.
O bar estava cheio de gente e numa mesa no canto estavam Paulo e Roberto, dois amigos das freqüentes noitadas.
A mesa ficava encostado na balaustrada do lado do mar, e as vezes salpicos das brumas batiam em você. O clima muito agradável, um pouco frio, por causa do vento marinho que soprava, convidava para tomar uma bebida mais “quente”,destilada ; - Garçon, traz um Teachers duplo, por favor.
Chegou Neuza, uma velha amiga, dá dois beijinhos em todo mundo e senta na mesa.- Alguém tá afim de um baseado ?
-Calma menina, acabamos de chegar.
-E daí! Garçon me traz uma cerpinha. Vocês sabem que tomando minha cervejinha sou “ pau pra toda obra”. Vamos pra boate hoje?
Neuza era uma jovem de 23 anos, universitária, fazia sociologia na UFRN, inteligente, culta, mas, como se costuma falar, meio “porra-louca”. Tinha mania de dizer que topava tudo, que era pau pra toda obra; quando estava embriagada dizia sempre : “Eu sou obra pra todo pau”.
Resolveram todos ir pra Royal Salute. Tina Turner, Barry White, era o som que rolava. No pedestal do DJ, Black Zé, dançava a noite inteira, sozinho.
Dançaram e beberam até as quatro da manhã. E agora pra onde vamos?
-Tenda do Cigano, gritou Neuza.
-Que tal, uma ginga frita no Jangadeiro?
-Você quer ir ver as putas, Francisca, Carioca, Maria Perna Grossa, que vende calcinha na praia! Vamos pra Tenda, tomar caldo a cavalo com batida de amendoim.
Saíram da tenda por volta das 5:30 hs, o sol vinha rasgando o mar, como uma imensa bola de fogo avermelhada.
Neuza cheia de desejos, perguntou: -Você já foi ao Corujão?
-Já, mas agora quero mesmo é ir pra casa dormir.
-E mais tarde ? , Insistiu Neuza.
-Tenho um compromisso as duas horas da tarde, jogar sinuca, disputando cerveja lá no “pé do gavião, na Redinha.
-Tô dentro, respondeu ela se despedindo.

                  Frei Carmelo
                    Ago/2005