quinta-feira, novembro 24, 2016

RUA PRIMEIRO DE MAIO

Comecei a frequentar a rua primeiro de maio quando ainda era criança e acompanhava meu pai para a matança, que era o matadouro de bovinos, ovinos, caprinos e porcos.
Depois, continuei indo pesar bois que vendíamos, mas a maioria das vezes eu ia mesmo era pro cabaré, que é na mesma rua.
Instalados lá, estavam, Maria Gorda, Gonzaga, Micael, Chicó de Maria Anjo, além das avulsas que tinham suas próprias casas, como Cearense, Jucá, Eliene e outras.

Entre 1992 e 1996, comecei a trazer bois para vender em Santa Cruz e arredores, do estado do Tocantins, das cidades de Colinas e, principalmente, de Araguaína.
Vendia pra Elino e Pedro Duca, Francisquinho, Luiz Bino, Paulo de Irineu, Cícero Nazário, Abel, Fernando de Paizoca, Antônio do Açougue e outros. Eu pesava bois, praticamente todos os dias da semana no matadouro, e quando era gado da região, eu comprava com Chico Bernardo e depois com Erivan Nazario.

Encontrava sempre com Montila e sua mãe Isabel, que era irmã de Nazaré que morou muitos anos na casa de Tio Zé Dadá, com Celuta e Celusia, depois morou na nossa casa por muito tempo. Mamãe gostava muito de Isabel e a chamava de Mistral, por conta da colônia, que ela usava muito. Outra que prestou serviço nas duas casas, foi Das Neves, engomadeira, muito querida por todos nós.
Também encontrava sempre com Zé Romão, Raimundo Preto, Tricola, que moravam nas redondeza, além dos magarefes , Calango, Gô, Claudio, Birino e outros, que ajudavam na matança.

Os bois eram muitos fortes e espantados e quando chegavam no curral do matadouro, era um corre corre grande. Um dia, eu conversava com Manoel Pataca, que foi pesar um boi da Boa Vista e João Nazário que vendia carne no mercado e de repente entra um boi grande e arisco, João e Manoel Pataca, subiram numa bancada de cimento e ficaram de quatro e morrendo de medo, mas o boi, se engraçou com minha cara e partiu pra cima, eu corri pra entrada do matadouro que estava com o portão de ferro fechado, então subi nas barras e fiquei pendurado nos caibros. Começou juntar gente na frente e gritar, foi quando os magarefes começaram a jogar coisas no boi que virou-se e correu para o curral e na velocidade , saltou o muro do matadouro e caiu em cima de uma cerca de faxina da casa vizinha, que servia de proteção do quintal e ficou totalmente destruída.

Passado o susto, o boi havia corrido pelo rio e voltou pra fazenda, eu desci do portão e pra curar o medo, fiquei rindo com as caras assombradas de João Nazario, vermelho da cor de uma pimenta e Manoel Pataca, branco como uma tapioca.
Ficamos contando a presepada , rindo e mangando da cara um do outro, quando entra uma senhora, com seus 75 anos, braba , querendo saber quem era o dono do boi que destruiu a cerca dela. Era Jucá, uma das profissionais mais antigas e respeitadas do cabaré.

Apresentei-me, -Como vai Jucá ?
- Chaguinhas aquele santanás é seu ? Venha ver a desgraça que ele fez no muro da minha casa.
Coloquei a mão no ombro dela, sentindo que ela estava mais tranquila, sabendo que eu era o dono do boi. Realmente, o peso do boi, destruiu a cerca e na saída ele destruiu o resto com os chifres.
No dia seguinte mandei refazer toda a proteção do quintal dela , que ficou novinho em folha.

Duas semanas após, eu estava lá pesando os bois, quando entra Jucá e pede pra me chamarem , na entrada do matadouro.
Terminei de pesar um boi e fui lá, pensando, "o que será desta vez" ?
- Como vai minha amiga, algum problema ?
- Eu vim lhe agradecer pelo serviço do meu muro, ficou ótimo. E queria lhe dizer um negócio.
- Pois então diga, mulher, o que é ? Perguntei.
- É que você pode dizer ao santanás do seu boi, que se ele quiser pular em cima da minha casa, pode pular, só me avise a hora que é pra eu sair.
E arrematou: - Ela tá "distiorada" mesmo .

Chl
Nov/2016