sábado, setembro 17, 2005

O MEDO

Ilustração Orf

A luzinha acendeu
a porta se abriu
eu entrei.
Mil olhos
me olhavam
mil gentes
acotovelavam-se
junto a mim,
dentro do elevador.
O medo
estampado
em meu rosto
no fundo
dos meus olhos,
a debilidade física
a ressaca moral
o calor
da segunda-feira.
Eu temia
eu tremia,
o medo
que ali ruisse
a fortaleza
do meu eu,
o medo
que ali cessasse
o prazer
de ser forte.
Interiormente
a vida é uma balela
a estrutura física
é frágil
a mente
é débil.
Mesmo assim
tudo vai subindo,
de repente
pára,
a porta se abre
e eu saio.
Chl
Ago/1979

quarta-feira, setembro 14, 2005

O LOUCO


As palavras do louco
ecoavam na Dr. Barata
"Vocês querem um mundo melhor"?
"Vocês querem um mundo pior"?
"Vocês acham que sou espírita,
ateu,não tenho pátria"?
Fui andando sem resposta.
Não sei se é um louco
ou um bêbado
não sei se queremos
um mundo melhor
ou pior.
Nem sei se sou espírita
ou ateu,
Talvez, esta seja a minha pátria
...............................................
...............................................
Também não sei ...............
Chl.
Ago/1979

domingo, setembro 11, 2005

TRABALHADOR DE ESTRADA


O sol se pondo
com raios frios
em agonia,
a lua no crepúsculo
se enche de fantasia
e a noite quer começar.
Na estrada
a margem estúpida
insiste em se sujar
e o homem, bóia-fria
está ali para limpar.
Na barraca de lona
as redes estão armadas
de lá para cá
de cá para lá.
Os homens de capacete
e roupas iguais,
cor de laranja
já desbotadas,
sentados nas pedras
sentados no chão,
esperam à beira do fogo
que esquente o feijão.
É feijão e farinha
é rapadura e só,
um pouco de água
e a dor no corpo
o homem se deita cansado
e dorme a noite toda
sem pensar nem em sonhar.
A lua ainda bonita
agora parece mais fria
o seu brilho prateado
está em leve agonia,
a madrugada se dissipa
com o sopro da ventania
um raio de sol desponta
traz consigo um novo dia.
O homem volta pra estrada
pra cuidar do seu asfalto
pra limpar a sua margem
desde baixo até o alto,
ele está sempre calado
trabalhando pro progresso
cuidando do automóvel
que um dia nesta estrada
lhe matará atropelado.
Chl
Ago/1979