sexta-feira, abril 29, 2011

DETINHO E AS GALINHAS

Detinho era morador da fazenda Santo Alberto na divisa dos municípios de Santa Cruz e Coronel Ezequiel. Casado com dona Ciça, que era quem administrava a casa e os negócios da família.
Dona Ciça sabia ler um pouco, assinava bem o nome e era capaz de escrever um bilhete curto, sabia fazer conta e organizar as poucas finanças da casa.
Detinho sabia fazer menino e trabalhar de enxada no roçado de algodão, milho e feijão; analfabeto, sequer conhecia dinheiro e tudo comprava no barracão na caderneta e dona Ciça pagava no dia da feira.

Eles criavam porcos e galinhas, para se alimentar e vender quando fosse necessário.
Umas das filhas do casal resolveu casar e dona Ciça começou os preparativos da festa e do enxoval da noiva.
Tinha na pocilga dois porcos gordos e no chiqueiro doze galinhas para apurar e comprar as coisas da festa.
Dona Ciça marcou o dia do marchante vir abater os porcos, que era dia de feira para ser vendido no mesmo dia. Não podendo ir à cidade levar as galinhas pra vender, pois tinha que ficar e acompanhar o abate dos porcos, ela resolveu mandar Detinho no caminhão da feira para vender os animais.

Fez a recomendação:
- Cada galinha é cinquenta reais, mas até por trinta você venda, que eu preciso do dinheiro para o casamento.
Detinho que não sabia o que era dinheiro, tanto fazia um valor como outro.
Subiu no caminhão com as doze galinhas e foi pra Santa Cruz.
Logo após cruzar a ponte na chegada da cidade, no início da rua Grande, era a feira das galinhas. Ele chegou, colocou as galinhas na calçada, amarrada pelos pés e ficou esperando comprador.
Logo apareceu o intermediário que compra para os restaurantes da capital, que servem galinha caipira, e perguntou:
- Quanto é a galinha seu Zé ?
- É cinquenta, respondeu Detinho.
- Faz quarenta, pra levar tudo ? Perguntou o comprador.
E Detinho, cheio de moral, realizando o primeiro negócio da sua vida, foi incisivo:
- Quarenta não, mas até por trinta eu vendo.
Vendeu tudo, mas dona Ciça passou seis meses sem falar com ele.
Chl
Abr/2011