sexta-feira, junho 24, 2005

POETA OU POETISA


É poeta ou poetisa
Esta é a discussão
Enquanto se sente a brisa
E procura inspiração
As vezes ela demora
E a rima fica incompleta
Nem mesmo Nossa Senhora
Ajuda quem não é poeta
Marcia Maia é poetisa
Agora, só pensa na neta
Pelo que escreve e improvisa
É poetisa e poeta.
Chl.
Jun/2005

PONTO


Um ponto negro
no espaço branco
-projeta -
meu ego
no vazio.
Chl.
Mai/1978

quinta-feira, junho 23, 2005

GLOSA


Se verso desse dinheiro
eu só vivia versando

Eu canto por derradeiro
a minha poesia contente
e enricava de repente
se verso desse dinheiro!
Cabra véio canguleiro,
vivia verso inventando,
passava o dia cantando
sem sequer ficar cansado
era rico aposentado
- eu só vivia versando!
Chl.

Jun/2005

quarta-feira, junho 22, 2005

ESPERANÇA



Dê esperanças
à Lua
quando, novamente
ela brilhar,
estarei aqui
para apreciá-la.
Dê esperanças
ao Sol
quando,ressurgir
vou dourar
e vou sentí-lo.
Dê esperanças
ao Amor
quando, ele vier
estarei aqui
-sempre-
a esperá-lo.
Chl.

Jun/2005

terça-feira, junho 21, 2005

TARDES DE SÁBADO NO VIETNAM

Ilustração : Geraldo Cunha


Minha querida Márcia,

Só você pra me arrebatar de volta para o edifício ilhado da rua dos Palmares, guarita do populoso Santo Amaro, com águas regurgitadas pelo velho Capibaribe, vinda aos borbotões da Cruz Cabugá.
Só você pra me levar de volta ao 1403 do Edifício Suape, na barulhenta esquina da rua do Hospício com a Av. Conde da Boa Vista (lembra Marcolino?)
Só você pra me jogar dentro de um ônibus lotado na Avenida Caxangá no caminho da Faculdade de Economia da UFPE.
Só você pra me transportar nas tardes de sábado para o Bar da Tripa, tomar cachaça com caldo de Sururu, cantar canções e fazer versos de protestos, contra a guerra do sudeste asiático, no Vietnã, e chorar de revolta contra a repressão da ditadura brasileira, que ceifava todos os dias a vida de companheiros da infância.
Só você para me lembrar os amigos da Madalena e do Derby, chamando para ver o primeiro programa a côres da TV Tupi, com Flávio Cavalcanti, vestindo uma camisa vermelha berrante, para chamar a atenção.
Só você para me levar de volta à travessia da comprida Av. Recife, cruzar o Tejipió, a Imbiribeira a barão de Souza Leão e finalmente chegar a rua Nossa Senhora dos Navegantes imediações do Posto Esso, onde conspirei, escrevi, amei e vivi parte da minha vida.
Só você pra me levar agora para a estante e folhear a Geografia da Fome de Josué de Castro e olhar tristonho para Homens e Caranguejos, do mesmo Josué, falando de humanos sobrevivendo nos mangues do Beberibe e do Capibaribe, que por ironia se encontram depois e juntos abraçam o mar, sob os olhos do Palácio das Princesas, na pujança e beleza da Veneza Brasileira.

Um grande beijo, Marcinha, marejados pelas lembranças e pela saudade.




Tardes de sábado no Vietnam


para Chagas, com saudade e carinho


Ao meio-dia, eles saíam. Em bando. Dos quatro pontos cardeais. Vestiam quase sempre, calças jeans: lee ou lewis. Quase nunca, camiseta. Sandálias de couro em vez de tênis.
Cabelos compridos ao vento. Violão na mão.
Elas se vestiam quase igual. Calças jeans, boca de sino. Raramente mini-saia. Blusas curtinhas, de malha, às vezes, bordadas, deixando entrever umbigo e o cós da calça. Quando havia cós na calça. Cinto de couro, sandálias e bolsas, também. De artesanato. Nenhuma maquiagem.
Cabelos compridos ao vento. Violão na mão.
Encontravam-se perto de uma hora, no bar junto ao cemitério. Terraço de madeira, mesas trôpegas, mínimo. Ali, muitas revoluções salvaram o mundo. Amores nasceram. Amores morreram. Todas as canções foram compostas. Todas as canções foram cantadas. E os sonhos brotaram, meio aos copos de cachaça e de cerveja, como brota o capim depois da chuva.
Enquanto na Ásia, a guerra se fazia, e aqui, a ditadura estendia até eles, suas garras, e os prendia e os matava, ali, no bar junto do cemitério, à beira da estrada, eles eram felizes e livres nos sábados à tarde. Num pequeno paraíso chamado Bar da Tripa, vulgo Vietnam.



Márcia Maia



A CAMA


Os corpos se agitam
os dedos se tocam
as carnes se unem
os sexos se mordem.
Em cima da cama
os corpos param
o peito se enche de ar
inflando o êxtase
o êxtase, o êxtase....
Os olhos se abrem
no relaxamento
o corpo fica pesado
os braços se afundam
no colchão
A cabeça
desce macia
roçando os cabelos
a pele suada
gruda as faces
A testa encosta
suavemente
no travesseiro.
Um suspirar profundo
desinfla o peito
o coração bate agitado
e a boca entreaberta
beija os lençóis.
Chl.
Jan/1979

domingo, junho 19, 2005

LIBERDADE CONDICIONADA


Quando me enrosco em teus braços
debaixo dos teus "cheiros"
fico completamente indefeso,
como um lírio brejeiro
como a areia da praia
que o vento sopra nas dunas
como a espuma das ondas
das águas do mar,
como um peixe na rêde
sem poder se livrar.
A relva do campo
na terra fincada
a liberdade dos homens
condicionada
são as meias verdades
que alguém, um dia falou
é a rotina da peça
que a censura cortou.
É o grito encravado
em cada garganta
é a voz desse povo
que não se levanta,
mas é tudo que quero
e que sempre quiz
apesar disso tudo
eu sou muito feliz.
Chl.
Mai/1979