sábado, agosto 13, 2016

O LIVRO DO CARTÓRIO

Zé Fonseca era o tabelião do cartório de registros civis, antecessor de Manoel Soares de Oliveira, donominado Sgundo Cartório , o primeiro cartório era o de registro de imóveis, do tabelião João Ataídes Pereira.
Naquela época todos os registros eram escritos à mão em livro próprio e com tinta líquida e pena ou caneta tinteiro.
O tabelião José Fonsêca, chamado, Zé Fonsêca, costumava transcrever todos os registros de uma vez só, cada dia pela manhã, em seguida colocava o livro em um lajeiro raso que existia na frente de sua casa. Lá estavam todos os registros de nascimento, casamento e afins.

Um belo dia , após a transcrição de alguns registros, utilizando uma tinta novinha recém-comprada, Zé Fonseca, abriu o livro no lajeiro, embaixo de um sol brilhante de verão e entrou em casa para esperar a tinta secar e recolher , já devidamente seco no ponto de guardar na prateleira.
Uma pessoa chegou para fazer um registro de nascimento e como era conhecida do tabelião, sentou-se e puxou conversa para atualizar os assuntos da cidade e contar as novidades dos amigos comuns.

Depois de uma hora e meia de conversa, Zé Fonsêca, pediu licença, levantou-se e saiu para pegar o livro. Tomou um susto, o bendito livro não estava no lajeiro. Ele correu até mais adiante procurando e percebeu em um canto da rua perto de uma pequena moita de mato e grama pé de galinha, uma coisa escura e logo percebeu que se tratava da capa do livro. Apavorado, pegou o livro , que só tinha as capas e levou pra casa. Na volta percebeu uma vaca que andava procurando o que comer, com os restos de umas folhas de papel na boca. Ele disse pra si mesmo:
- A vaca comeu meu livro.

Voltou pra casa chateado e tratou imediatamente de comunicar ao juiz o acontecido , explicando que

só alguns registros haviam-se extraviado. O juiz compreendeu e disse:
- Espero que não haja confusão, quando alguém precisar de uma certidão de alguma desses registros perdidos.

Passado algum tempo, a cidade inteira sabia da história do livro. Aí aconteceu o primeiro caso, a mulher descobriu que o marido tinha uma amante e ameaçou a separação.
- Vou deixar você, cabra safado, descobri que você tem uma rapariga, desgraçado.
- Tenha calma mulher - dizia o marido, tentando acalmá-la, vamos tentar resolver com calma.
- Calma o que, safado, vou agora mesmo no cartório pegar uma certidão do casamento e entregar pro juiz e pedir o desquite e a metade do que você possui.
- Não adianta mulher - respondeu o marido - melhor ter calma e tentar resolver.
- Não adianta por que, seu bandido safado ?
O marido que sabia de tudo da história do livro , respondeu bem calmo.
- A certidão que você quer pegar, tava no livro que a vaca comeu, então é melhor se acalmar.

Outras vezes que alguém procurava o cartório para pedir certidão sem importância e trabalhosa, Zé Fonsêca, não pensava duas vezes, respondia em cima da bucha.
- Essa certidão tava no livro que a vaca comeu.
A partir daí, sempre que existia dúvida em qualquer evento onde se perguntava, " Ele tem certidão?" , a resposta era sempre a mesma, " Tem, mas tá no livro que a vaca comeu" .

Chl
Ago/2016