sábado, agosto 13, 2005

O BUGARI



Morreu o bugari,
porque seu cheiro acabou.
A pétala branca
esmaeceu
perdeu a cor
ficou marrom
pálida
quase preta,
o bugari murchou.
Sobre a estante
com cheiro ardente
o caule mergulhado
na água fria
sobre as pedrinhas,
de "alagamar".
A luz ofuscou
e respirou fumaça,
viu os dramas
presenciou felicidade
fez-se forte
e cheirou ardente,
com pétalas brancas
alvejadas pela brisa
que já não existe,
aguentou quanto pôde
sem respirar.
A água fria
estava podre,
as pedrinhas
feriam seu caule,
o bugari sucumbiu
só pra fazer alguém feliz,
a natureza fugiu
e a flor feneceu.
Chl.
Out/1978

quinta-feira, agosto 11, 2005

DJALMA MARANHÃO



Era 1961. Morava na Campos Sales em frente ao seminário São Pedro, que naquela época tinha uma atividade religiosa intensa, além de um grande número de seminaristas. Estudava no Colégio Marista, na primeira série B, onde formamos um time de futebol de salão ao lado de Washington, Bel, Jair, Toinho Barbosa e Alexandre Bebé Chorão, o técnico era Irmão Anchieta.
Fora do colégio, o esporte preferido, era jogar botão; vidro inquebrável, baquelite, plástico derretido, lixa dágua e parafina, eram materiais indispensávais pra se fazer um bom time. Os beques mais fornidos, tinham ângulos de 90° para chutar bola (botão de camisa) rasteira e os atacantes formavam ângulos mais abertos , com um bico de gaita pra chutar alto, cobrindo o goleiro, geralmente uma caixa de fósforos.
Toda manhã ia para o colégio e quase sempre de carona num Bel Air azul,rabo de peixe,do Desembargador Carlos Augusto, junto com Caju, filho do Magistrado;a tarde era pra jogar botão com Avelino Piúba, Vicente Cabelinho, Gatinha, Ariston,Chico Caraolho, Escurinho, Jair, João Felipe,Chico Doido,Lourencinho, David, Dwigth, Iedo e a turma de garotos que freqüentavam o América da Rua Maxaranguape.
Resolvemos fundar o nosso próprio time de futebol de salão, o Corinthians. Fui escolhido presidente.
Na primeira reunião, tratamos de arrecadar fundos para comprar a bola, camisas,calções e meiões; o tênis era por conta de cada um. Demos um balanço nas mesadas e o resultado foi pífio, só dava pra comprar a metade das camisas; tínhamos quer ir à luta.
Reunimos uma comissão com três participantes e fomos ao centro da cidade para pedir ajuda aos comerciantes. Saímos pela Apodi, entramos na Deodoro, João Pessoa e finalmente Avenida Rio Branco, onde se concentravam as maiores lojas de Natal.
A primeira loja que entramos foi na Casa Duas Américas e encontramos logo na entrada o proprietário, um sujeito alto, musculoso,com bícepes se avolumando na camisa de mangas compridas, cabelos inpecávelmente penteados com brilhantina Glostora, era o Sr. Nagib Salha. –Senhor, nós estamos formando um time de futebol de salão e viemos pedir uma ajuda para comprar as camisas.
Nagib olhou de cima pra baixo pra mim, que a essa altura já tremia o corpo inteiro, enfiou a mão no bolso, abriu um sorriso e nos deu cinco cruzeiros. Pegamos o dinheiro e saímos felizes da vida. Em seguida fomos a Formosa Síria, Casa Rubi, Casas Cardoso até que chegamos na Ulisses Caldas, e resolvemos ir à prefeitura.
Chegamos no Palácio Felipe Camarão, por volta das três da tarde, entramos sem ser interpelados e fomos logo subindo a escadaria de madeira. Já no saguão que dá acesso ao Gabinete , uma senhora muito gentil perguntou:- O que vocês desejam?
-Falar com o Prefeito, respondi.
-Olhe ele aí.
Quando me virei, vi aquele homem alto de cabelos pretos ondulados, e me dirigi pra ele; eu estava gelado e tremia todo por dentro.
-O que você quer garoto?Perguntou Djalma,colocando a mão na minha cabeça.
-Senhor, nós fundamos um time e estamos pedindo uma ajuda para comprar o material.
-Time de que, meu filho?
-De futebol de salão, respondeu um dos amigos que me acompanhavam, pois eu já não conseguia falar.
Djalma, abriu um sorriso largo, enfiou a mão no bolso, que me pareceu bem fundo, de uma calça branca de pregas ao lado dos bolsos, puxou uma nota de vinte cruzeiros e me entregou, afastando-se com dois acessores, rumo ao Gabinete.
Saí andando de costas,olhando para aquele homem,que estava de costas pra mim.-Obrigado, balbuciei.
Aquele dinheiro, deu pra comprar nossa bola.

Chagas Lourenço