sábado, dezembro 03, 2016

FORÇA CHAPE


A alma chora
Com a dor aguda
Do coração.
Um sentimento 
Maior que todos
Que une todos
A dor e a paixão 
O amor e a saudade
A essência 
Da raça humana
A razão da humanidade 
Solidariedade.
Força Chape.

Chl
Dez/2016

quarta-feira, novembro 30, 2016

MEDO DE AVIÃO

Diante do trágico acidente que vitimou o time da Chapecoense e vários jornalistas, na queda de um avião nos arredores de Medelim na Colômbia , no dia 29/11/2016, resolvi descrever o pânico que passei em uma viagem internacional que fiz 1983.

Havia participado de uma eleição em 1982, como candidato a prefeito de Santa Cruz , eleição geral no estado, para governador,senador,deputados federais e estaduais , prefeito e vereadores. Candidato pelo PMDB, perdemos a eleição em uma campanha longa e extenuante.
Para relaxar um pouco e sair do clima eleitoral que ainda persistia, resolvi fazer uma viagem para Miami, Cidade do México,voltando por Manaus, Fortaleza e Natal.

A partida em um Boeing 707 da Varig, que era o mesmo modelo do avião presidencial brasileiro, depois chamado de sucatão.
Saímos do Recife com uma escala em Belém, para reabastecimento e embarque de novos passageiros, a maioria, engenheiros americanos que trabalhavam com mineração na região norte.
Como não consigo dormir em viagem, fiquei lendo o máximo de tempo, mas a viagem foi tranquila e chegamos em Miami no início da manhã.

Depois de três dias nos EUA, fui ao aeroporto, para embarcar para a cidade do México. Fiquei em um hotel no centro da cidade. Após três dias , embarquei para o voo Cidade do México - Manaus, com escala em Bogotá, na Colômbia.
Aí, começou meu suplício.

Ao entra na aeronave, bem maior do que a anterior, sentei na janela e do meu lado, tinha uma imensa turbina que girava lentamente. Fiquei impressionado com o tamanho da turbina que estava sentado praticamente em cima dela.
Peguei a revista de bordo e constatei: eu estava embarcado em um DC-10 da Varig. Uma reportagem da Veja, sobre a queda de um DC-10, porque soltou uma peça do tamanho de uma caneta, tomou conta do meu pensamento e eu comecei a entrar em pânico, sem demonstrar. Não olhei mais para a turbina.

Decolamos e um pensamento constante começou a me assombrar : nunca mais vou ver meus filhos. Eram crianças entre três e dez anos.
Tentei ler, não consegui, quando abria o livro, enxergava a turbina se despregando. Fechei os olhos e tentei dormir, em vão, continuava vendo a maldita turbina. Afora o pânico, foi um voo tranquilo até Bogotá. Aí começou tudo de novo. Tivemos que desembarcar e aguardar uma hora e meia na sala de embarque do aeroporto, sem nenhuma explicação. Na minha cabeça logo vinha: é a peça que tá frouxa e eles vão apertar.

Cheguei em Manaus, era madrugada, o alívio era enorme, consegui olhar pela janela, enquanto o avião taxiava na pista e fixei o olhar em um avião da Vasp que estava estacionado com as turbinas cobertas por lonas azuis. Gravei aquilo na cabeça, sem nenhum motivo, mas gravei.
Fui para o hotel e por volta das nove horas da manhã, acordei e liguei a TV.
A notícia era que um avião de cargas da VASP, havia caído logo após a decolagem do aeroporto de Manaus. Era o avião que eu tinha visto na chegada.

Desci para o café no hotel e em seguida saí para procurar uma agência de viagens. Iria passar três dias em Manaus, mas remarquei minha passagem para o dia seguinte, na Transbrasil. Eu só pensava em chegar em casa e ver meus filhos.

No dia seguinte embarcamos pra Fortaleza,com uma escala em Belém, eu já estava no corredor,  queria distância de janela.
Quando pousamos em Belém que o avião parou na pista, avisaram que teríamos que desembarcar, por conta de um pequeno problema técnico, mas que logo, seguiríamos viagem.
Na saída do avião, escutei o comandante, um piloto jovem, dizer:- Isso só acontece aqui no norte, no sul, duvido que eles permitissem.
Pronto. O pânico voltou com força.

Passei duas horas no aeroporto de Belém com uma dúvida cruel:embarco ou não embarco; embarquei.
O voo foi tranquilo para Fortaleza, com uma escala em São Luiz, que eu nem sabia que havia, mas foi rápida e não precisei desembarcar.

Já em Fortaleza, no dia seguinte, procurei a Varig e antecipei em um dia minha volta pra Natal, sempre pensando, "um dia eu chego em casa".
No outro dia, cedinho, embarcamos em um avião novo da Varig, era o Airbus. Fiquei animado, avião novo, vigem rápida, seria um fim do meu suplício.
Sentei na poltrona e a aeromoça me trouxe o jornal O Povo de Fortaleza e eu comecei a ler. A notícia :
Ontem um avião da Transbrasil pousou de bico, sem o trem de pouso dianteiro abrir, no aeroporto de Belém. O número do voo era o mesmo que eu voei dois dias antes. "Pronto, é perseguição" pensei.
Em cinquenta minutos chegamos no aeroporto de Parnamirim e eu pude ver o sorriso e o brilho de alegria nos olhos dos meus filhos.

Imaginei nunca mais andar de avião, mas, as estatísticas me convenceram, o meio de transporte mais seguro do mundo é o aéreo.
Voltei a voar um ano depois, sem pânico, mas com receio. Entre 1998 e 2002, percorri todo o estado do RN, em aviões monomotores e bimotores, nas campanhas políticas.

Dois anos depois da minha viagem, 1985, houve um grande terremoto na cidade do México e derrubou o hotel que eu fiquei em 1983.
Ainda pensei em viajar pra Areia Branca e dar um mergulho numa daquelas montanhas de sal grosso, mas desisti.

Chl
Nov/2016