quarta-feira, setembro 28, 2005

EMERGÊNCIA


Manda chuva meu Jesus
qu'é prá muiar
meu sertão
pra nos livrar
da emergência
e da grande sequidão.
Passou de Janeiro a Março
e a chuva não chegou
o povo e o gado com sêde
e as cacimba secou.
Míio plantado cêdo
antes de palmo muchô
o feijão já fulorando
c'um sol quente esturricô.
Os home já tão faminto
e cheios de precisão
o governo aperreado
procurando solução.
O gado cum fome e sêde
tão trilhando os caminho
os home faz as coivara
para ir queimando espinho.
Quando a catingueira desfóia
o pereiro fica pelado
quando mameleiro mucha
o mundo tá desmantelado.
E assim tá meu Nordeste
nesta divina opção
na Bahia muita lama
e aqui só tem torrão.
O povo já tá faminto
saqueando os armazém
furtando por precisão
enquanto a chuva não vem.
O governo mal começado
com um projeto que o diabo
colocou em sua mão,
dá cumê a muita gente
com tanto papel, ôxente
eu acho que não dá não.
Nordestino tá cansado
de vê o tempo passado
sem conseguir seu desejo,
agora nessa emergência
porque não se bota urgência
e se implanta o sertanejo?
Um projetão danado
c'um tanto dinheiro gastado
sem se ver a solução
só dá emprego a dotô
para gastar em papel
e passagem de avião.
O Nordeste no inverno
é sol quente céu azul
e os problemas daqui,
ficam sendo resolvidos,
nos gabinetes do Sul.
Dê recurso e autonomia
aos nossos guvernador
prá vê se algum dia
pelo menos "ameidia"
se vê cheia a "vazia"
do pobre do agricultor.
Jesus te peço de novo
manda chuva com urgência
pra vê se acaba de vez
com o blefe da emergência.
Chl.
Abr/1979

domingo, setembro 25, 2005

O BATIQUE

Candido Portinari -1944

Na parede da sala
um mural de dor
pai,mãe, filho
o cachorro e um burro
a mala vazia
e a fome:
Retirantes.
O homem
magricela
faminto
doentio,
é tão forte
que anda,
sua sombra
se confunde
com um mandacarú
com os espinhos
espetados em sua língua.
A mulher
trapos no corpo
molambos na cabeça
leva em suas entranhas
duas coisas típicas,
do nordestino pobre:
A fome
e uma criança.
A dor e o amor
unidos na miséria.
A criança
se confunde com o burro
e é puxado pelo cachorro,
no peito,
a alegria dos alienados
nos lábios,
o sorriso da ignorância
no andar,
a conformação dos oprimidos.
Os traços negros
mostram o sol ardente
na parede da sala
no batique de dor.
Chl

Ago/1978