sábado, junho 10, 2006

A PORCA NO CIO


Da direita para a esquerda: Djalma,AFRÂNIO, Chagas, Paulinho e Léo Sodré.
Foto: Rodrigues



Pedro Abílio era um fazendeiro da Serra de Martins, com uma família grande, tinha vários filhos, dentre eles tinha um garoto baixinho, esperto, serelepe, com um desvio acentuado no maxilar, por isso era chamado de Afrânio Queixinho, mas, seu nome verdadeiro era Afrânio Amorim.

Afrânio quando veio morar na capital, tornou-se industral na área de curtume, panificação e fabricação de placas e esquadrias. Hoje com os filhos criados e a dificuldade dos negócios, Afrânio dá expediente, religiosamente no Bar do GG, na Praça Augusto Leite, no Tirol.

Na adolescência, Afrânio com a família, já morava em Umarizal, no sopé da Serra de Martins, no médio-oeste potiguar. Trabalhava na agricultura e ajudava a cuidar da criação de gado,ovelhas e porcos .

Todas as manhãs, depois da ordenha e de servir a ração dos porcos, Afrânio ia para um engenho velho, onde, por cima de toras de madeira, espreitava por uma parede de cobogós, as lavadeiras de roupa na beira do açude da fazenda. Elas costumavam usar apenas um vestidão de chita, muita fino,que ao se molhar deixava aparecer, as coxas, os seios e os pelos pubianos, colados na roupa molhada.

Queixinho, espreitando pelos cobogós, ouvia ao longe, as mulheres cantarolando a música "Asa Branca" de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. Tarará lá lá lá..tarará lá lá lá.......
de olho nas coxas suculentas das sertanejas, ele se excitava e ali mesmo se masturbava, ao ponto de cair de cima das toras de tanto prazer.

Uma tarde estavam todos sentados no alpendre da casa, quando de repente surgiu, no oitão, numa carreira estridente pelo barulho do chocalho, uma das ovelhas maiores e mais bonitas do rebanho, com o cinturão de Afrânio amarrado no pescoço. Ninguém entendeu nada, mas, de repente, ele surge, segurando as calças e logo tentando se explicar, dizendo que ia ver se ela estava com uma bicheira. Ao irmão seu confidente, ele, contou:
-Eu ia era comer aquela danada, mas ela me botou no chão e correu.

Era mês de Janeiro, o céu bonito pra chover, anunciando a pegada do inverno, as ovelhas e as porcas entrando em cio, para parir do meio para o fim do inverno, quando já tem muito pasto e comida farta para alimentar os filhotes. Seu Pedro chama Afrãnio e diz:
-Franinho, quero que você leve a porca branca pra cruzar com o barrão do nosso vizinho. A danada tá viçando e é uma zuada da molesta.
-Sim senhor, pai, vou pegar uma corda para amarrar o pé dela e tanger pra lá.

A porca branca era uma mestiça de "Large White", pesando uns duzentos quilos. No ápice do cio, tinha a genitália, vermelha cor de cereja, inchada e úmida. Muito agitada, roncando e subindo no cocho, na cerca, numa inquietude de fazer dó.

Afrânio, amarrou a corda no pé da porca e tangeu rumo à casa do vizinho que tinha um barrão de raça, para cruzar com ela.Lembrando que Seu Pedro havia recomendado que tivesse cuidado, pois era a primeira cria e a porca nunca tinha sido coberta antes.

Por volta das dez horas, Afrânio, tangendo a porca perto da represa do açude, escuta ao longe o cantarolado:
-Tarará lá lá lá, tarará lá lá lá.... das lavadeiras na beira do açude.
Imediatamente, ficou excitado, olhou para o açude e enxergou bem longe as coxas das mulheres, olhou pra frente e vislumbrou a copa frondosa de um juazeiro, fazendo sombra.
Tangeu a porca para amarrá-la no tronco da árvore, olhou excitadíssimo para a vagina inchada e vermelha do animal, arriou as calças e falou:
-Que barrão, que nada, quem vai tirar seu cabaço é Franinho.....

                Frei Carmelo
                  Jun/2006

segunda-feira, maio 01, 2006

CASAMENTO DE NEZIM COSTA



Manoel Costa, morava na fazenda Oiticica, no limite entre os municípios de Sítio Novo e Santa Cruz.

Filho de uma família de agricultores, tinha nove irmãos e era o mais velho.
Desde cedo começou a trabalhar na lavoura e nas atividades do sítio para ajudar os pais a criar os irmãos. Tirava leite, ajudava a fazer queijo, amansava garrotes para a capinadeira, enfim, como ele próprio falava - faço ,de um, tudo- para ajudar meus pais na lida da Oiticica.

Nezim , como era chamado, gostava muito de trabalhar e era por demais controlado nos gastos. Católico fervoroso, rezava todas as noites para a sua santa de devoção, Santa Rita de Cássia. Assistia três missas por ano, a da sexta-feira da Paixão, 22 de Maio (missa de Santa Rita), e a missa do galo, no fim do ano.

Todos os sábados Nezim, pegava o caminhão de Zé Beijú, para ir à feira de Santa Cruz. Passava na feira do gado para saber como estava o preço do boi, do bode e até de burro mulo, cavalo etc..
Depois passava na usina de algodão para comprar torta de caroço , para as vacas de leite e os bois de capinadeira. Por volta de 11 horas, pegava o primeiro transporte que passasse na fazenda e voltava pra casa. Almoçava, ligava a forrageira e preparava a ração do gado do curral.

Os irmãos mais novos de Nezim, começavam a tomar cachaça logo cedo na feira do gado, depois desciam pro cabaré, pra dançar forró e namorar com as cabôcas novas que vinham de Cuité, Campina Grande e de outras cidades e gastavam o dinheirinho que ganhavam na semana.

As irmãs casaram muito novas e foram mudando da fazenda, umas pra cidade, outra para outros sítios onde moravam seus maridos. Depois, os irmãos foram morar na cidade, trabalhar de pedreiro ou de servente e dois deles foram pra São Paulo, em busca de trabalho melhor remunerado.

Nezim ficou só com o casal de velhinhos , que por ironia do destino, morreram de pneumonia, no frio de Julho. O velho Costa, morreu na véspera de São João e Sinhá Leopoldina, na noite de São Pedro.

A tristeza tomou conta da Oiticica, enquanto durou o luto dos pais de Nezim. Os irmãos vieram visitá-lo, as irmãs davam conselhos pra Nezim, arranjar uma companheira, pra não ficar tão sozinho naquele cazarão.

Nezim que de sexo não entendia nada, nunca tinha ficado com mulher e brigava com os irmãos, quando flagrava algum deles escanchado na jumentinha de carregar água do barreiro, para a serventia da casa.

Um ano depois da morte de Seu Costa, o luto tava desfeito e Nezim resolveu atender o convite das irmãs e foi a uma festa de São João, no Saco de Dentro, terras de João Valentim, no município de Lages Pintadas. Chegando lá, tomou a tradicional "chamada de cana", que ele só fazia aos domingos, antes do almoço. Tomou mais uma e mais outra, com pamonha, milho assado e rolinha torrada.

Nezim, pela primeira vez, sentiu o efeito inebriante da aguardente. Ficou surpreso ao saber como era bom. Quando se deu conta, já estava dançando com Ritinha, viúva de Zacarias Nó Cego, que foi morto a faca, na bodega de Luis Baeta em Saõ Bento do Trairi.
Ritinha, esquentada e experiente, pegou o solteirão pelo braço e levou pro salão, pensando mais nas economias do gajo, do que no homem bom que era ele. Mas, ficou surpresa e contente, quando sentiu nas pernas se avolumar a virilidade daquele fazendeiro que a única vez que sentiu um orgasmo, foi em um sonho, onde acordou assustado pensando que estava tendo uma agonia.

Depois da festa até o casamento, foi um pulo. Ritinha, tinha o nome de sua santa de devoção e fazia ele sentir umas coisas que nunca sentira antes, danado de bom.

A festa foi simples como era ele; com um paletó do seu velho pai ele casou. Foram pra Oiticica, onde Nezim mandou matar um boi erado que estava cevando, com 25 arrobas.
Dançaram bastante, até que Ritinha, com o efeito do conhaque São João da Barra, um afrodisíaco do sertão, pegou o marido pelo braço e levou para o quarto.

Chegando no quarto , na mesma cama que fora de seus pais, Nezim estremeceu. Ritinha percebendo, apagou a lamparina e puxou-o para a cama, já se desfazendo das roupas. O rapaz era só virilidade e não tinha certeza de como fazer as coisas. Ritinha conseguiu traze-lo pra cima dela e o coitado muito desajeitado encostou o peito no seu rosto , como quem quer esconder a vergonha e numa agonia feroz, numa tremedeira violenta, gozou no umbigo da noiva. Foi quando Ritinha cheia de desejo, falou pra Nezim:
- Não é aí não Nezim. É mais embaixo. Nezim retrucou:
- Espere muié, ainda tem um lugázim mió do que esse????

          Chl          
 Mai/2006

                 

domingo, abril 16, 2006

SAUDADES

Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia- Santa Cruz
Foto de Hugo Macedo.


Esta palavra saudade
aquele que a inventou,
no momento que o fez
com toda certeza chorou.

Ela descobre a tristeza
que a nós vem abater,
porém quem não sente saudade,
não sabe o que é viver.

Depois vem o encontro
que a saudade derrota
se não houvese saudade
seria uma alegria morta.

A distância e o tempo
são cúmplices da saudade
sem isto não haveria sonho,
mas só a realidade.

A realidade crua
sem surpresa, sem emoção
seríamos almas de pedra
não teríamos coração.

Sonhamos com o amor
cantamos o amor
vivemos o amor
mas, sentimos grande dor.

Nem todos fazem o bem
nem todos seguem a maldade
nem todos são corajosos
mas todos sentem saudade.

Uns entretem com bebida
outros com certas manias,
eles se valem das lágrimas,
eu me valho da poesia.

Chl
Rio de Janeiro
Jun/1967.

sábado, abril 08, 2006

TARDE DE VERÃO

ACEDO
A tarde de verão
mostra uma grande proeza,
feita por mãos sobrenaturais
com requintes da natureza.
O lindo céu aberto
abraçando o horizonte,
o sol já quase sem forças
se esconde por trás do monte.
As nuvens fazem amontoados
como um imenso terreiro varrido,
perdem todo seu fulgor
quando o sol fica escondido.
É tudo tão perfeito
numa tarde de verão,
como os sentimentos da alma
como a força da paixão.
Chl.
Rio de Janeiro
Mar/1967.

segunda-feira, abril 03, 2006

POEMAS INGÊNUOS

Revendo minhas anotações, resolvi publicar algumas quadrinhas (poemas ingênuos) que escrevi desde 1967 (18 anos), quando inicei escrever poesias .

O AMOR

Inqietude, tentação
traz saudades, faz chorar
nos magoa o coração
é tão sublime saber amar.

Rio de Janeiro
Mar/1967.
Chl.

PERSEVERANÇA

Quem ama se torna criança
para restringir a dor
quem espera sempre alcança
esperarei meu amor.

Chl.
Rio de Janeiro
Mar/1967

BONECA

Feri tua ingenuidade de boneca
por isso te peço perdão,
eu te quiz como uma flor,
ainda és rosa em botão.

Chl.
Rio de Janeiro
Mai/1967.

sexta-feira, março 31, 2006

CREPÚSCULO


A lua
como uma hipérbole
voltada para o infinito
no crepúsculo,
derramava sua luz
na caatinga.
O nordestino
enxada nas costas
corpo doído
esperança n'alma
volta ao lar.
O céu nublado
faz sinal de chuva,
engana !
A lavoura enfolhada
dá sinal de safra,
mente!
O sertanejo
com fome
espera
quase desespera
mas, continua esperando.
Com dez filhos
e a mulher
o amor
é ato contínuo.
Ato que é fato
obrigatório
instintivo
quase até,
animalesco.
No crepúsculo
uma dádiva de Deus
a lua em hipérbole,
cor de brasa,
dar de graça
o luar.
Chl

Jul/1978

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

BOEMIA

Ilustração: Léo Sodré.

Se eu soubesse:
que deixando de ser boêmio
não morreria;
Confesso:
com certeza deixaria.
Como sei:
que mesmo sem ser boêmio
eu morreria;
Afirmo:
vou morrer na boemia.

Chl


Fev/2006

sábado, janeiro 28, 2006

AVENTURAS DE PAULINHO A CORES - BAR DE FÁTIMA



Paulinho é uma figura muito conhecida em Natal, filho de Raimundo Barros , conhecido como Raimundo do cartório, Raimundo perna santa ou Raimundo lombo preto. Era tabelião do sexto cartório, situado no cantão das cocadas, assíduo freqüentador do Bar de Nazir, no Beco da Lama.


Paulinho que só estudou até a terceira série do primeiro grau (diz que não terminou o colégio, porque faltou tijolo), fez um acordo com o pai para que o apurado do cartório na sexta-feira ficasse pra ele. Depois desse dia, ele começou a trabalhar, foi a todos os clientes que gostavam de pagar na segunda, pra dizer que daria mais quatro dias de prazo, pois a partir daquela data só precisaria pagar na sexta.

Depois disso, já cheio de dinheiro no bolso, com a renda polpuda do cartório, arranjou uma namorada muito bonita, chamada Fátima. Rápidamente se apaixonou por ela, que além de bonita e carinhosa era muito experiente no assunto de sexo. Ora, Paulinho a cores (tem um olho cinza e outro verde), também conhecido por Paulinho Feio, ficou encantado com a namorada e resolveu fazer-lhe todos os gostos. Comprou uma casa na Redinha pra ela e instalou um bar na Bernardo Vieira esquina com Hermes da Fonseca, a Quinze. O bar era situado onde hoje é a passarela do “midueimól”.

Fátima que era filha de um soldado da polícia, morava com os pais na Redinha e trabalhava no bar, que tinha um balcão e mesas no térreo e uma mesa de sinuca no primeiro andar.

Antônio Mecânico que tinha uma oficina na quinze, só vivia no bar tomando cachaça e jogando sinuca. Saía pela bola cinco e terminava o jogo de uma tacada só. Com alguns mais afoitos, ele jogava só com uma mão,apostando, e nunca perdia. Só não conseguia ganhar de Paulinho. Quando iam jogar, o taco de Antônio espirrava, ele arriscava bolas fáceis e errava, então, Paulinho tranqüilo, proprietário do lugar, derrotava o mecânico.

Um belo dia depois de uma farra pesada, Paulinho foi pegar Fátima em casa as cinco horas da manhã. Quando chegou na casa dela acionou a buzina do “bugue”, um Selvagem zerado, acordando todo mundo. A mãe dela apareceu dizendo que Fátima havia ido para o bar receber umas bebidas. A côres extranhou: Receber bebida as cinco da manhã ? Mas, resignado foi ao encontro dela no bar.

Quando se aproximou do local, percebeu que o bar estava fechado, mas, como tinha uma cópia da chave resolveu dar uma olhada. Abriu a porta e no térreo estava tudo calmo , não tinha ninguém, foi quando ele escutou um gemido, que a princípio julgou que fossem dois cegos fumando, um passando o cigarro para o outro e se queimando : aiii, uiii, aiiii, uiii......
Resolveu subir à sala do sinuca para checar. Sacou o Taurus 38, niquelado, cano curto e começou a subir os degraus, de costas para livrar o flagrante. No meio da escada ele resolveu espreitar e viu as pernas de Fátima, ainda com a sandália japonesa nos pés, abertas apontando pro teto e no meio delas Antônio Mecânico, com as calças arriadas, saindo pela bola cinco. Foi o suficiente.

Paulinho saiu em disparada,resmungando : -Por isso, que eu nunca perdi no sinuca pra esse filho da puta.
Começou a gritar na frente do bar:- Quem quiser comprar uma casa barata na Redinha, ainda leva um bar de lambuja, com rapariga e tudo.


                  Frei Carmelo
                    Jan/2006