sábado, abril 05, 2008

FIO SUAVE


Um fio suave
de música
fazia vibrar-me
os tímpanos;
em meu ser
delineava-se
a saudade.
Chl
Set/1969

sexta-feira, abril 04, 2008

AFONSO BOCA RICA

Casa de Afonso Boca Rica
Santa Cruz


Afonso Costa Soares, resolveu colocar um vistoso dente de ouro na boca o que lhe valeu o apelido para o resto da vida : Afonso Boca Rica.
Componente de uma família grande, "Os Costa", Afonso, casado com Ritinha com quem teve duas filhas, era um dos mais novos de uma série de 


irmãos, como Juvenal Costa, também chamado de Juvenal Pézinho, pois uma sequela de paralisia infantil, o deixou com um defeito no pé, que o fazia caminhar auxiliado por uma bengala, Bilo Costa, Zé Costa, chamado de Doutor Costa, Lindalva de Severino da Silva...etc.
Todos procedentes da zona rural de Santa 
Cruz, com pouca escolaridade, mas com muita 
inteligência, se tornaram comerciantes e 
proprietários rurais.
Afonso foi o primeiro a falecer acometido de uma insuficiência renal crônica, que o obrigou a fazer um transplante de rim, mas a rejeição ao orgão, o levou a óbito.
No dia do seu velório, Lindalva chorando muito, dizia :
- Meu Deus, porque levar Afonso que é o mais 
novo e não Juvenal que já tá véio e sambado ?

Juvenal deu um pinote, escorado na bengala e 
respondeu, " vai te danar Lindalva, deixe Deus escolher quem ele quiser".

Afonso era como um líder da família, viajado, foi algumas vezes à São Paulo, comprar carro pra vender na região.
Em uma das viagens, ele levou Piaca, que 
ficou deslumbrado com a viagem de avião e 
dizia que essa é que era a viagem boa, pois daqui pra São Paulo, não viu nenhum avião 
quebrado na oficina e de lá pra cá de carro, viu mais de trezentos jipes no prego nas oficinas.
Em São Paulo, foram ao Mappin, que era o magazine da moda na época, no centro da cidade, ao lado do viaduto do chá. Passearam pela loja de oito andares, olhando todo tipo 
de mercadoria, bonita e barata. Quando 
estavam saindo, na sobreloja, resolveram descer pela escada rolante, que era mais 
rápido e todo mundo estava usando. Piaca ficou meio cismado, mas resolveu encarar. Se segurando em Afonso e no corrimão, desceram. Do meio pro fim, ele viu que a escada desaparecia dentro do chão, aí ficou assombrado e faltando uns três degraus, Piaca, pulou com medo de ser engolido pela 
escada. Como era fim de ano, tinha uma árvore 
de Natal enfeitando o salão, no pé da escada e ele espatifou-se no chão agarrado com a 
árvore.

Afonso gostava de futebol e mandou fazer um campinho na fazenda pra jogar bola com os moradores e uma turma de Santa Cruz. No domingo era o melhor programa, a pelada no sítio dos Costa.


Tinha um tambor de duzentos litros, cheio 
d'água e um caneco, pra abastecer os jogadores e algum torcedor sedento.
Um dia numa partida acirrada, houve uma disputa de bola que terminou com um dos atletas com a perna quebrada. Imediatamente Afonso pegou o rapaz colocou dentro do carro 

e correu para o hospital na cidade. Quando o médico viu o desmantelo disse, "Afonso, que jogo violento é esse ? O rapaz está com a 
perna quebrada.
- Pro sinhô vê dotô, e num foi nem falta.

Em uma exposição em Natal, no Parque Aristófanes Fernandes, ninguém conseguia vender nada, porque estavam em plena seca e 
comprar gado era muito arriscado. Afonso, 
sempre muito otimista, andava de um lado pra outro tentando vender um curral de vacas .
Um sujeito passou e pileriou, "Ô seca da 
gôta, né Boca Rica" ?
- Pra mim tá atolando em todo canto, respondeu Afonso.
Dirigiu-se ao curral do vizinho e perguntou :
- Qual o preço das vacas ?
- Qual vaca, disse o vizinho de curral, 
escolha uma que digo o preço.
- Quero saber do curral todo.
Depois de ouvir o preço, Afonso disse: - Tá 
comprado.
Saiu pro Bandern, foi direto para a carteira rural, que o diretor era Sílvio Procópio e falou.
- Dotô Silvo, quero esse valor aqui emprestado que comprei um curral de gado.
- Meu amigo Afonso, quem é seu avalista ? 
Indagou Silvio procópio.
- Ora dotô Silvo, o avalista é o sinhô, tem avalista mió ?

Afonso comia de tudo, tinha uma vida agitada, pra cima e pra baixo, vendendo e comprando. Tudo isso foi trazendo um esmorecimento, uma fraqueza, sintomas de doença. Ele muito 
durão, não queria se entregar, mas um dia em Bom Jesus, encontrou-se com Dr. Gotardo 
Fonseca e Silva, médico urologista, fazendeiro, que gostava muito dele e comprava e vendia muita vaca a ele.
Quando ouviu as queixas de Afonso, pediu pra ele comparecer ao consultório no dia seguinte, para examiná-lo, pois achava que ele não estava bem.
Logo cedo Afonso chegou e foi o primeiro a ser atendido. Gotardo examinou e fez uma pergunta.
- Boca Rica, você sente alguma coisa ? Afonso respondeu em cima da bucha.
- Ao redor de mim, uma braça, dói em todo canto.
Foi essa doença que vitimou o grande Afonso Boca Rica.

Chl
Abr/2008

quinta-feira, abril 03, 2008

SONHO E POESIA


Tantos pensamentos
Tantos sonhos
quantas ilusões,
que dariam:
romances
dramas
comédias
e até sátiras.
Tudo passou
tudo transformou-se,
só restou
uma poesia.
Chl
Set/1969

quarta-feira, abril 02, 2008

ULTIMO BEIJO

Foi sinceramente
um doce beijo
que para ela
era o amor renascendo,
uma esperança feliz,
o orgulho da certeza,
um bálsamo eterno.
Para mim
bom, mas vulgar
beijo que selava
um final sem graça
do amor mal construído
que já nasceu morto.
Depois,
até amanhã
o amanhã para sempre.
Chl
Set/1968.

terça-feira, abril 01, 2008

ZÉ DE BRITO E MARIA DO AMPARO

Casa de Auta Pinheiro Bezerra
Praça Cel. Ezequiel Mergelino



Zé de Brito, casado com Maria do Amparo, morava na Praça Cel. Ezequiel, a praça principal de Santa Cruz. O casal tem uma filha Graça, casada com Neto, um agrônomo filho de Parelhas. Manoel Macedo de Oliveira, seu concunhado, contabilista, professor e proprietário da tipografia Santa Cruz, (que depois passou para Manoel Bernadino, que era seu auxiliar), era seu vizinho de frente.

A empregada da casa de Manoel Macedo, chama-se Rita Onofre, apelidada de Rita Oião, pois tinha os olhos esbugalhados e era considerada a mulher mais feia de Santa Cruz, menos para uma pessoa : Surrupei.
Surrupei era cabeceiro do armazém de Alfredo Praxedes e apaixonado por Rita, que esnobava o coitado e não dava nem cabimento à ele. No sábado, fim de feira, Surrupei enchia a cara de cana e ficava ruendo por Rita Oião.


Zé de Brito tinha um Jeep Willys na praça, que depois trocou por um Corcel que durou muitos anos, só não durou mais do que o Opala de Luiz Fernandes.

Muito querido na cidade, gostava do bate papo no Bar do Ponto, que ficava no centro da Praça e pertencia a Chico Aurélio, que ganhou esse apelido, depois que foi ser motorista de Zé Aurélio Guedes, empresário paraibano da construção civil, que morou uns tempos na cidade. Outro que ganhou o apelido de Chico MDB ou Chico de Iberê, foi Chico Pataca, que na mesma época começou a trabalhar com Iberê Ferreira de Souza, neto do Cel. Ezequiel, que foi Governador do Rio Grande do Norte.



Um belo dia, em meio ao animado bate papo, onde todos se divertiam com Zé de Brito, porque era gago, chega um cidadão filho de Santa Cruz, mas que morava há alguns anos no Rio de Janeiro, perguntou, chiando muito, a um dos frequentadores do bar.

- Amigo você conhece a Maria do Amparo, que é minha parente e mora aqui, que eu gostaria de visitá-la ? O senhor respondeu. - A casa dela é aquela ali, disse apontando pra rua, vizinha de seu Zé Nunes e dona Liô, mas, seu Zé de Brito, esposo dela está ali naquela mesa.O cidadão olhou para o bar e dirigiu-se para o grupo de motoristas da praça que conversavam numa mesa tomando cafezinho.
- Boa tardshi...cumprimentou a todos, chiando pra valer, e dirigindo-se pra Zé de Brito, perguntou :- Você é que é o Zé de Briito.
Zé olhou de banda desconfiado, porque conhecia o parente mais do que farinha e disparou, gaguejando.
- Tem ca...cara de eu ser....e..e...Maria do Amparo.

Chl
Abr/2008