sexta-feira, abril 04, 2008

AFONSO BOCA RICA

Casa de Afonso Boca Rica
Santa Cruz


Afonso Costa Soares, resolveu colocar um vistoso dente de ouro na boca o que lhe valeu o apelido para o resto da vida : Afonso Boca Rica.
Componente de uma família grande, "Os Costa", Afonso, casado com Ritinha com quem teve duas filhas, era um dos mais novos de uma série de 


irmãos, como Juvenal Costa, também chamado de Juvenal Pézinho, pois uma sequela de paralisia infantil, o deixou com um defeito no pé, que o fazia caminhar auxiliado por uma bengala, Bilo Costa, Zé Costa, chamado de Doutor Costa, Lindalva de Severino da Silva...etc.
Todos procedentes da zona rural de Santa 
Cruz, com pouca escolaridade, mas com muita 
inteligência, se tornaram comerciantes e 
proprietários rurais.
Afonso foi o primeiro a falecer acometido de uma insuficiência renal crônica, que o obrigou a fazer um transplante de rim, mas a rejeição ao orgão, o levou a óbito.
No dia do seu velório, Lindalva chorando muito, dizia :
- Meu Deus, porque levar Afonso que é o mais 
novo e não Juvenal que já tá véio e sambado ?

Juvenal deu um pinote, escorado na bengala e 
respondeu, " vai te danar Lindalva, deixe Deus escolher quem ele quiser".

Afonso era como um líder da família, viajado, foi algumas vezes à São Paulo, comprar carro pra vender na região.
Em uma das viagens, ele levou Piaca, que 
ficou deslumbrado com a viagem de avião e 
dizia que essa é que era a viagem boa, pois daqui pra São Paulo, não viu nenhum avião 
quebrado na oficina e de lá pra cá de carro, viu mais de trezentos jipes no prego nas oficinas.
Em São Paulo, foram ao Mappin, que era o magazine da moda na época, no centro da cidade, ao lado do viaduto do chá. Passearam pela loja de oito andares, olhando todo tipo 
de mercadoria, bonita e barata. Quando 
estavam saindo, na sobreloja, resolveram descer pela escada rolante, que era mais 
rápido e todo mundo estava usando. Piaca ficou meio cismado, mas resolveu encarar. Se segurando em Afonso e no corrimão, desceram. Do meio pro fim, ele viu que a escada desaparecia dentro do chão, aí ficou assombrado e faltando uns três degraus, Piaca, pulou com medo de ser engolido pela 
escada. Como era fim de ano, tinha uma árvore 
de Natal enfeitando o salão, no pé da escada e ele espatifou-se no chão agarrado com a 
árvore.

Afonso gostava de futebol e mandou fazer um campinho na fazenda pra jogar bola com os moradores e uma turma de Santa Cruz. No domingo era o melhor programa, a pelada no sítio dos Costa.


Tinha um tambor de duzentos litros, cheio 
d'água e um caneco, pra abastecer os jogadores e algum torcedor sedento.
Um dia numa partida acirrada, houve uma disputa de bola que terminou com um dos atletas com a perna quebrada. Imediatamente Afonso pegou o rapaz colocou dentro do carro 

e correu para o hospital na cidade. Quando o médico viu o desmantelo disse, "Afonso, que jogo violento é esse ? O rapaz está com a 
perna quebrada.
- Pro sinhô vê dotô, e num foi nem falta.

Em uma exposição em Natal, no Parque Aristófanes Fernandes, ninguém conseguia vender nada, porque estavam em plena seca e 
comprar gado era muito arriscado. Afonso, 
sempre muito otimista, andava de um lado pra outro tentando vender um curral de vacas .
Um sujeito passou e pileriou, "Ô seca da 
gôta, né Boca Rica" ?
- Pra mim tá atolando em todo canto, respondeu Afonso.
Dirigiu-se ao curral do vizinho e perguntou :
- Qual o preço das vacas ?
- Qual vaca, disse o vizinho de curral, 
escolha uma que digo o preço.
- Quero saber do curral todo.
Depois de ouvir o preço, Afonso disse: - Tá 
comprado.
Saiu pro Bandern, foi direto para a carteira rural, que o diretor era Sílvio Procópio e falou.
- Dotô Silvo, quero esse valor aqui emprestado que comprei um curral de gado.
- Meu amigo Afonso, quem é seu avalista ? 
Indagou Silvio procópio.
- Ora dotô Silvo, o avalista é o sinhô, tem avalista mió ?

Afonso comia de tudo, tinha uma vida agitada, pra cima e pra baixo, vendendo e comprando. Tudo isso foi trazendo um esmorecimento, uma fraqueza, sintomas de doença. Ele muito 
durão, não queria se entregar, mas um dia em Bom Jesus, encontrou-se com Dr. Gotardo 
Fonseca e Silva, médico urologista, fazendeiro, que gostava muito dele e comprava e vendia muita vaca a ele.
Quando ouviu as queixas de Afonso, pediu pra ele comparecer ao consultório no dia seguinte, para examiná-lo, pois achava que ele não estava bem.
Logo cedo Afonso chegou e foi o primeiro a ser atendido. Gotardo examinou e fez uma pergunta.
- Boca Rica, você sente alguma coisa ? Afonso respondeu em cima da bucha.
- Ao redor de mim, uma braça, dói em todo canto.
Foi essa doença que vitimou o grande Afonso Boca Rica.

Chl
Abr/2008

4 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro Chagas, os Costa dá um livro e aquela "peladinha" domingueira acho que era a partida de futebol mais longa do mundo. Lembra: começava por volta das 09, largava para o almoço, sempre uito farto, e voltavam pro segundo tempo que só acabava quando não tinha mais sol. Um abraço.

Rosemilton Silva

Anônimo disse...

Meu caro Chagas, os Costa dá um livro, e aquela "peladinha" domingueira acho que era a partida de futebol mais longa do mundo. Lembra: começava por volta das 09, largava para o almoço, sempre muito farto, e voltava pro segundo tempo que só acabava quando não tinha mais sol. Um abraço.

Rosemilton Silva

Mayara Pinheiro disse...

Caro Chagas Lourenço, venho acompanhado a sua série de postagens sobre a cidade de Santa Cruz. E muito me interessa seu conhecimento sobre esta cidade, pois atualmente reuno material (fotos, histórias populares, lendas, entre outros) para um posterior estudo sobre a cidade.
Caso tenha interesse em contribuir esse é meu email: maycosata@hotmail.com. Meu nome é May

Unknown disse...

Parabéns mais uma vez por esta contando e narrando historia da nossa terra