quinta-feira, janeiro 16, 2014

MINHA INFÂNCIA EM SANTA CRUZ I

                                               

 O PRIMEIRO SALÁRIO

A primeira vez que ganhei dinheiro por prestar um serviço, foi guiando um cego.
Brincávamos na calçada do riacho, esquina com a Rua Ferreira Chaves (hoje João Bianor Bezerra), onde ficava a minha casa na esquina.
Estávamos jogando biloca com Didia, filho de João Serafim, quando escutei uma voz chamando:
- Menino, menino, onde fica o correio? 
O correio ficava na outra esquina , uma rua depois da minha casa, no mesmo lugar que está hoje, Rua Senador João Câmara com Av. Rio Branco (antigo riacho das Craibeiras).
Era um ceguinho com uma bengala e uma bacia (meia banda de uma lata de queijo de Minas).
Eu me aproximei e falei:
- É ali na outra esquina, ceguinho. 
Ele me perguntou
-Você pode me guiara até lá?
-Posso, respondi.
Ele estirou a bengala, eu segurei e comecei a puxá-lo na direção do correio. Quando chegamos lá, eu avisei que tinha chegado e ele enfiou a mão em um bisaco que levava, tirou uma moeda de quinhentos réis e me deu.
Fiquei feliz demais. Corri pra casa e fui mostrar à papai.
-Painha, painha, ganhei quinhentos réis que o ceguinho me deu por que eu guiei ele pro correio.
Seo Lourenço olhou pra mim e disse:
-Venha cá meu filho. Ceguinho não pode trabalhar e precisa de dinheiro e nós é que temos que dar dinheiro aos cegos e não receber deles. Pegue um tostão e vá já devolver o dinheiro dele.
Corri de volta pro correio, sem entender direito por que teria que devolver o primeiro salário que ganhei na vida.
Voltei e encontrei o  ceguinho sentado na calçada do correio, balançando a bacia com algumas moedas dentro.
-Ceguinho, eu falei, papai mandou devolver seu dinheiro e mandou mais um tostão para o senhor. 
Joguei as duas moedas dentro da bacia.
O ceguinho perguntou:
-Onde você mora?
-Na casa da esquina, onde eu peguei o senhor.
-Há, disse ele, você é filho de seo Lourenço da usina, né? Diga a ele que Deus o pague e proteja a sua família.

Chl
Jan/2014

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