segunda-feira, julho 18, 2005

O CORUJÃO

                                                         Ilustração: Laércio Eugênio

Era uma festa de carnaval de 1975. Nos salões do América Futebol Clube o uísque corria solto na mesa do bloco. No bolso um vidro de Reativan, na bolsa um tubo de lança Universitário (Argentina) e um lenço ou um tufo de algodão, para ingerir pelos lábios ao invés de cheirar.
Lá pelas três horas da madrugada, Chico já muito embriagado resolveu ir embora, estava exausto e completamente desorientado. Antes de sair para pegar seu Jeep sem capota, resolveu passar no banheiro, e no corredor do clube encontra a jornalista. –Aonde vai uma hora dessas? Ela perguntou.
-Mijar e depois vou pra casa, que estou morto.
- Dá uma carona? Também quero ir pra casa.
-Tudo bem, ele respondeu.
Saíram do América, entraram no Jeep e ela foi logo insinuando:-Por que não vamos na estrada de Ponta Negra comer um sanduíche ou talvez tomar um caldo?
Seguiram para a estrada de Ponta Negra e no início da via que hoje se chama Avenida Roberto Freire, tinha uma placa luminosa, que Chico tão bêbado nem prestou atenção o que era e achou que poderia ser a lanchonete . Era “O corujão” o segundo motel de Natal depois do Jóia na Ribeira.
Chico meio intrigado, mas completamente bêbado resolveu entrar. Nem caldo , nem sanduíche, nada. Só teve tempo de arrancar a fantasia e cair na cama como uma pedra e adormecer.
Algumas horas mais tarde, por volta das 10 horas da manhã, Chico acorda, com uma tremenda dor de cabeça e sem saber onde estava. Lembrou-se de um amigo, Mimoso, que era gordinho e muito branco, para telefonar e saber que lugar era aquele. Olhou para o teto tinha uma lâmpada vermelha muito fraquinha que deixava tudo na penumbra, olhou para o chão e viu um carpete surrado e cheio de marcas, de queimaduras de cigarros jogados ; ficou intrigado tentando adivinhar se ali era o inferno ou um cabaré, quando do seu lado alguém se moveu.Olhou repentinamente para o lado e viu aquele corpo branco e roliço, imediatamente imaginou :- Será que eu comi Mimoso?
Virou-se completamente pra conferir e viu que era a jornalista que foi logo dizendo:- Oi amor, bom dia!
-O que estamos fazendo aqui, perguntou Chico, emputecido.
-Até agora nada, ela respondeu.
Ele retrucou: -Graças a Deus !
Ligou pra recepção pediu um copo de leite gelado, dois Engovs e ainda ouviu da moça da recepção que o conhecia : - Você hein! Comeu a gordinha.
Ele desligou o telefone e disse: -É foda mesmo, vamos embora.

                Frei Carmelo
                  Jul/2005
                  

Um comentário:

Orf disse...

Essa é digna de ser encenada no Teatro Alberto Maranhão...