terça-feira, outubro 30, 2007

A BOMBA DE EFEITO MORAL

Foto de Oswaldo Ribeiro


Sexta feira, dia de chorinho no Beco, cheguei por volta das 19:00 hs e dirigi-me para a tradicional "mesa de pista" do Bar de Nazaré.
Fui recebido efusivamente pelo meu amigo Léo Sodré, que ao levantar-se da mesa, derrubou o copo de Montolla e num arremate ligeiro disparou:
- Foi Lula Augusto.
Lula estava sentado do outro lado da mesa, muito longe do copo, mesmo assim retirou os óculos escuros e franziu o cenho para Léo, que se abriu numa grande risada e falou:
-To brincando viu!
Em seguida chegou Orf e sentou-se na ponta da mesa, retirou sua Sony fininha e começou a disparar fotos com o braço estirado, que só Deus sabe como ele acerta o foco.

Pedi a Tatiana uma dose dupla de vodka e um saquinho de amendoim, imediatamente Léo levantou a mão em concha, com os dedos apontados pra mesa, pra abocanhar os amendoins e tirar o gosto da dose de montilla. Neste momento Tásia que atendia o seu celular azul, falando com o namorado, sentiu o cheiro de sururu queimado e correu pra cozinha, deixando o fone pendurado balançando e os gritos de alô, alô...

Convidei uns amigos, para prestigiar o chorinho, entre eles Junior Protege, que na época do Resenha, nós o apresentamos a muita gente como sendo Cloe. Quando Hugo Macedo foi apresentado, estranhou:
-Vige, pensei que Cloe fosse viado, mas é esse bichão aí?

Depois de muito papo, pedi pra Junior me dar uma carona. Dunga havia chegado e estava sentado na mesa tomando cerveja. Pedi que ele levasse Léo pra casa, que já estava sem se segurar em pé, depois de uma enxurrada de rom montilla.

Pagamos a conta e fui com Junior para o carro estacionado na Vigário Bartolomeu. Quando abri a porta para entrar, ouvi a voz:
-Também vou.
Olhei, era Léo, que chegou correndo e costurando a calçada. Abri a porta traseira para ele e sentei na frente.

Quando chegamos na Prudente de Morais, perguntei:
- Léo, você vai pra casa de Mércia? Ele respondeu:- No estado que estou só dá pra dormir na casa de mamãe.
Junior, que sabe onde é a casa, tocou pra lá, quando de repente, ouvi o ruflar do vento adentrando ao carro e percebi que os vidros elétricos desciam rapidamente, olhei para ele e percebi que dirigia só com uma mão, a outra tapava o nariz e eu ainda inebriado pela vodka, tardiamente, senti um fedor terrível invadindo minhas narinas. Olhei para trás, pra ver se Léo ainda estava vivo e ele com o sorriso maroto, perguntou:
- Já estamos perto? Estamos chegando, respondi.
Junior acelerou o carro e o vento forte conseguiu amenizar o cheiro, quando os vidros começaram a subir, sinalizando que a situação estava normalizada.
De repente, veio à lembrança das passeatas estudantis de 1968, quando eu era estudante em São Paulo, um terrível vapor de bomba de efeito moral, temperada com carbureto, fez Junior imediatamente abaixar os quatro vidros de uma vez e já sem segurar no volante, pois estava com as duas mãos no nariz, por entre os dedos, perguntar ao chegar na casa de Léo:
-Vamos deixá-lo aqui? Claro, respondi, aqui é a casa dele, por que?
- Porque eu acho que ele tá todo cagado.

                   Chl
                Out/2007


Um comentário:

serrão disse...

hehehehe, ô caba pra dar trabai esse leo, genial!