segunda-feira, janeiro 18, 2016

CARTAS DE BERTENIO

Gostei tanto dos escritos do jornalista , meu amigo e conterrâneo Rosemilton Silva, com suas conversas com a cumade Maria Gorda, Michael, Gonzaga e outras figuras folclóricas de Santa Cruz, que resolvi escrever cartas fictícias como se fossem as cartas que recebia e escrevia para Berthênio.

Berthênio era como eu chamava meu querido amigo, José Piscínio de Oliveira ( Zé Dobico),de Santa Cruz, que trocava correspondências comigo, nos idos de 1965/66, quando eu era estudante no Rio de Janeiro.

Querido Chaguinhas,

Aqui está tudo bem, todos com saúde, graças a Deus, só a minha responsabilidade que aumenta, cada dia , mais.
Como você sabe, sou quase vizinho de Dr. Aldo Pessoa, Juiz da nossa cidade, que você conhece muito bem, até mais do que eu.
Pois veja você, Dr. Aldo, quando não está no carteado lá no clube, no jogo de Belízio, junto com Miguel Farias, Pitico, Antônio de Hosana, Zéluce, Josias Azevedo, Zé Aurélio, está em casa, aqui na praça e não aceita barulho de tamanho nenhum , no toca-fitas dos carros. Ontem esteve aqui na minha casa e deu uma ordem:
- Você , seu José Dobico, como Delegado Civil , tem o dever de coibir esse abuso, dos rapazes nos bares, com o som do carro muito alto.
Eu respondi na hora,-Pois não excelência, vou tomar minhas providências.

Chaguinha, hômi de deus, primeiro, procurei saber o que mulesta era "coibir", que eu soube que era "empatar" os meninos de fazer zoada, depois fiquei até de noite, na hora que eles encostam no Bar do Ponto, para tomar minhas providências.

Você sabe que eu só permitia você , naquele fusca branco, fazer uma zoadinha, pequena, aqui na frente, primeiro porque é filho do meu compadre Lourenço, que além de ser meu amigo, foi meu hóspede, quando era solteiro e depois porque você namorando com a filha do Juiz eu tenho mais moral pra dizer a ele, que é gente de casa, mas outros cabras, principalmente de fora, não vou permitir.

Pois num é que ontem de noite, eu já tava quase cochilando, quando chegou correndo, aqui em casa, Caldo de Batata, filho de Dr.Aldo, dizendo que tem uma Kombi, com placa de Cuité, com o som nas alturas, em frente ao Big Bar, o bar dos meninos de Barros Pretos de Lajes Pintadas.

Imediatamente mandei Neífe que estava conversando aqui na calçada para avisar ao dono do carro, para baixar o som. Neífe, voltou e disse que o cara não ia baixar. Na mesma hora pedi a Neífe para ir até à delegacia  falar com o Capitão Pereira, para enviar uma guarnição da PM.

Esperei uma meia hora e chegou Neífe com a guarnição na minha casa: O Sargento Pacheco, o Cabo Miguel e o soldado Andorinha. Eu imaginei na minha cabeça, "agora vai".
Na frente do pelotão me dirigi para o bar, passei na frente da casa do Juiz, ele estava sentado na sala, esperando o resultado. Lá em casa, Mariinha foi tomar uma garapa de rapadura, pra se acalmar e Do Céu, sua querida amiga, ficou olhando na janela, agarrada com um terço, rezando.

Quando cheguei lá, dei a ordem, -Baixe o som do carro ou faça o favor de se retirar, que está perturbando a ordem pública. O cabra perguntou:
- E quem é o senhor, com essa autoridade toda ?
-Sou, José Dobico, Delegado Civil da cidade e estou com uma guarnição da Polícia Militar. Aí, tomei um susto quando Pacheco gritou:- Sentido, apresentar armas, para Cabo Miguel e Andorinha, um com um revólver 32 e o outro com um cassetete.

Foi quando, para minha sorte, o cabra falou, - Ah! seu Zé Dobico do hotel, sou filho de Ascendino de Cuité, que conhece o senhor e se hospeda lá quando vem fazer negócio aqui. Vim deixar um dinheiro de agave e aproveitei pra tomar uma aqui no bar, mas já tou indo embora.
Aqui sim, tem moral, lá em Cuité é uma esculhambação, a zoada dos carros nas bodegas.
Foi-se.

Do Céu manda lembrança e está lhe esperando pra tomar o cafezinho que você gosta. Receba meu abraço e fique com Deus.

Seu sempre amigo,
Berthênio.


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