domingo, agosto 28, 2016

A MISSA DE DOMINGO

Em Santa Cruz, a missa do domingo sempre foi tradicional, em dois horários, pela manhã, cedo, e no início da noite. Papai ia sempre pela manhã e nos levava, Jair, Lourencinho e eu. Íamos caminhando de casa até a igreja, mas no caminho, na rua Grande, ele entrava na Farmácia de tio Zé Dadá para conversar. Geralmente, encontrava por lá, Clovis Medeiros, Clodoval, Severino Paulino, Orlando Mouco, João Ataíde e Gastão. Na saída , invariavelmente, tio Zé Dadá, nos dava uma latinha de Pastilhas Valda e nós fazíamos a festa com ela.

Na missa da noite podia-se encontrar na calçada da igreja, Zé Matias, Irineu Duca, Pedro Nunes, Dula, Pedro de Tico, Joaquim Tavares, Joca Moreira, Chico Adriando, Chico de Juca, Edvaldo Umbelino, Mané da Viúva,Manoel Anisio, Sebastião Penha e mais alguns outros, moradores da rua Grande e da rua Daniel. Depois da missa, sentavam-se na calçada de Furtado, em frente da casa de Miguel Cury, Joseluce, Josias Azevedo, Antônio de Hosana,Miguel Farias, seo Quim Quim, Zé João, Sérvulo Orago e Dr. Demócrito.
Na outra esquina, do bar de Seo Lauro, em frente a barbearia de Pedro Dantas, ficavam, Severino Culête, Mosquitinho, seo Horácio, Pedro Amarante, Zé Walderi, Zé Dadão e João Lucas.

Um dos frequentadores da missa era Absalão, que morava na rua Ferreira Chaves, ao lado da casa de seo Gato e Chico Bento, e do outro lado, Alexandre Calça Curta e seo Aquino. Em frente, moravam Pedro Rodrigues, dona Mariinha de Zé de Gan ( minha avó) e seo Ribeiro.
Na igreja existiam uns bancos particulares, pertencentes a algumas famílias e também, cadeiras individuais, para sentar e se ajoelhar. Absalão tinha uma cadeira dessas na igreja.

João de Gan, ainda jovem, frequentava a missa da noite e depois ia para a praça, conversar com os amigos e olhar as moças. Gostava de passar na casa de Cleto Antunes, vizinha do bar de seo Lauro, pra ver se via Lenise. Sempre foi muito brincalhão e gostava de mexer com os amigos e dar boas risadas.

Um dia chegou na igreja e foi entrando na hora da missa. Viu Absalão, ajoelhado em sua cadeira, no meio da igreja, rezando com a cabeça abaixada, entre as mãos. João, foi se aproximando, silencioso, como estava toda a igreja, com Padre Emerson, fazendo a oração, falando baixinho. Chegou perto de Absalão e com os dois dedos indicadores, cutucou, com força, as costelas do coitado que rezava. Absalão, pego de surpresa, deixou escapar, sem querer, um pum tão alto que toda a igreja se virou pra ver o que era. Absalão continuou de cabeça baixa, rezando, e olhando com rabo do olho, para ver quem danado tinha feito aquilo. Os olhos de todos na igreja, só enxergavam João de Gan, que estava em pé, logo atrás de Absalão. Todos imaginavam que havia sido João, o autor do estrondo.

João, vermelho, da cor de um tomate, começou a andar de costas, passo a passo, até a porta da igreja. Sem falar com ninguém, desceu os batentes da calçada e saiu andando rápido, pelo beco das almas, passou pela praça e foi direto para o Bar Savoy, de Augusto Fernandes. Olhou pros fundos do bar e viu, Paizoca e Zé "Zanolho", jogando na sinuca de Chicó Flor. No bar, viu Zé Cabral, da padaria, sentado em uma mesa, tomando cerveja e comendo rodelas de pão com molho Inharé, fabricado em Santa Cruz. Puxou uma cadeira, sentou na mesa de Cabral e gritou:
-Assiiiss , traga uma cerveja bem gelada.
Virou-se pra Zé Cabral e falou:
Cabral, por favor, vamos mudar de assunto. - Cabral, sem entender, respondeu baixinho, - mas nós não começamos nem a conversar.
João pensava que a cidade toda já sabia, da explosão da igreja.

Chl
Ago/2016

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