sexta-feira, agosto 19, 2016

LUIZ DE PRIMO

Primo Pereira era um homem de estatura média, com uma perna mais curta do que outra, proprietário da Fazenda Camará, na Serra de Santo Alberto. Homem respeitado por sua seriedade, simplicidade e honradez. Após a morte de sua esposa, na cidade de Cruzeta, onde moravam, ele dividiu a propriedade entre os filhos, Luiz, Pedro, Manoel e José. Luiz ficou com a sede da fazenda e os outros três ficaram com as partes anexas. Cada um fez sua própria sede.

Pedro, Manoel e José eram agricultores e viviam inteiramente dedicados às suas famílias. Luiz, além de agricultor era comerciante e fazia negócios nos municípios vizinhos de Santa Cruz, como Campo Redondo e Coronel Ezequiel. 

Primo resolveu tomar Lourenço como compadre, pois eram amigos e vizinhos de propriedade, e o afilhado escolhido foi Luiz, que só chamava seu padrinho de "Padim Lórenço". Vendia toda a safra de algodão na usina de Nóbrega & Dantas que Lourenço era o gerente. Todas as atividades da fazenda, que Luiz tinha alguma dificuldade, consultava "Padim Lórenço.

Tempos depois quando assumi a gerência da usina e passei a comprar a safra de algodão de todos os filhos de Primo, que eram meus amigos, especialmente José que era meu vizinho na rua Antônio Henrique, comprava também todo o algodão que Luiz adquiria de outros agricultores, como comerciante.
Em julho de 1981, com o falecimento do meu pai (Lourenço), resolvi levar minha mãe (Marinete) em uma viagem de 25 dias pela Europa, para ajudar a superar a perda e afastá-la um pouco do clima pesado que ficou em nossa casa. No final de 81 e início de 82,viajamos.

Deixei tudo acertado no Banco do Brasil, através de promissórias rurais, no dia 15 de Dezembro de 1981, todos os pagamentos do algodão recebido dos maiores fornecedores e que ainda entregavam o produto. Preço feito, quantidade acertada, pagamento assegurado, viajei.
Quando estou no hotel em Viena, na Áustria, recebo um telefonema de Santa Cruz, era Fátima minha secretária, avisando que houve um erro do funcionário do banco, justamente no contrato de Luiz e precisava de um nova assinatura minha. Eu ainda demoraria duas semanas pra voltar. Foi o suficiente. Os brincalhões começaram a aperrear Luiz, dizendo que eu havia fugido com o dinheiro dele.

Luiz que acreditava em tudo, saiu falando com todo mundo dizendo:
- Chaga de Padim Lórenço, pegou meu dinheiro e danou-se pro "estrangeiro"e nem sei se volta mais. O pior é que Padim morreu e eu não tenho quem me ajude.
Mandei pedir pra Lourdes Apreciado, em quem ele confiava, que era chefe do escritório, para explicar que , que em 15 dias eu chegaria e acertava tudo.
Xavier, gerente do BB, também ajudou a tranquilizar o agoniado Luiz.

Papai quando deixou a gerencia da usina, dedicou-se inteiramente à fazenda e duas vezes por anos, vacinava o gado contra o baba (aftosa) e incentivava os vizinhos a também vacinar o rebanho deles.

Um dia encontrou Luiz e foi logo ouvindo, "bença padim",-Deus te abençoe, meu filho - respondeu papai- já vacinou seu gado ?
- Ainda não.
- Pois compre a vacina na cooperativa que no domingo eu levo os homens pra vacinar.
Meia hora depois chega Luiz no escritório.-Pronto, comprei. Ô remeidim caro da mulesta, padim. Domingo eu espero o senhor.

No domingo, logo cedo, papai pegou Manezão e Cassimiro, que trabalhavam na usina e seguiu pra Sto. Alberto para levar Zé Zuca, Zé Preto e Olinto Lourenço, para ajudar na vacina.
Chegando no Camará, o gado já estava preso, eram uma 50 reses, e começaram a laçar os mais mansos e vacinar.

Uma hora depois, já haviam vacinado mais da metade e restava só o gado mais arisco, então Lourenço pediu:
- Luiz, meu filho, traga uma parede (tira-gosto) pros homens tomarem uma, que aqui só tem "imbu".
Luiz imediatamente gritou :- Joana , padim tá pedindo uns pedaços de galinha.
Salete prontamente trouxe e começaram a comer e beber. Recomeçaram a vacina e o gado mais arisco começou a dar trabalho, pra laçar e pegar "a muque".

Mais uma hora e ainda faltando umas cinco reses, Lourenço pediu de novo, outra parede.
Luiz, levantou-se foi até a cozinha e disse, baixinho:
-Salete, bote logo meu almoço, antes que padim e esse cabras acabem com a galinha toda.

Chl
Ago/2016



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